UM CAFÉ

… ainda que eu saiba que não vens, estou a esperar-te para um café.

Diante de mim, um jovem limpa com um pano molhado as folhas de uma planta ornamental.

Ele está apenas fazendo o trabalho dele.
Não me parece nenhum pouco cuidadoso.
Ela responde aos pretensos cuidados com um aroma inesquecível.
Ele se foi.
Ela se recolheu.
E eu…
fiquei pensando nos cacos de poesia nos quais inadvertidamente pisamos.

Diante da vitrine, vejo a mulher que se esconde.
São tantos monstros a carregar na bolsa.
E o que dizer das serpentes a serem esmagadas pelos sapatos?
Ah! e das máscaras para corrigir os sorrisos das rugas felizes?
Pobres vestidos, levantadores de falsos testemunhos!
Senhor, Senhor, por que não nos fizesses cegos?
quem sabe aprenderíamos a amar…
a amar a beleza.

Não chegaste, mas, eu te vejo
sem nome, sem roupas, sem voz
és apenas nós mesmos.
único, como somos quando estamos em nós.
Santas Interjeições, socorram-me.
prometo-vos todos os terços
e quartos!
oh! o que eu digo?
o que me dizes?

há poesia no teu silêncio.
pelo menos, é o que ele me diz
e tu?
preferes o meu silêncio?

morrerei então

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